MARIANO BARONE

SOBRE COMO ALGO ENTORTA AQUI

27 de Nov 2021
Rua Peixoto Gomide, 1887
Jardim Paulista – SP

“Devemos partir, pois Ninguém também é um nome de Ulisses”

Tiqqun. Teses sobre a comunidade terrível.  Dazibao.

Vira. E norte é aquilo para onde aponta nossa fuça na manutenção do sol sobre nosso ombro direito. Dobra. Uma das ruas sem nome que compõem as muitas ruas sem nomes que compõem o tecido do passo e do asfalto nessa cidade está. Para. É por não termos heróis suficientes o motivo das ruas se enunciarem do lugar comum do não-ter-sido? Vira. Olhando pro céu esbarra em um sussurro para daqui a 7 anos, profecia daquelas que desconcertam e segue e pede licença à intrigante relação que há entre as nossas bocas e as portas de nossas casas, como estas dobram na entrega daquilo feito nós que tropeça pro seu fora, dente feito soleira. Emite um som. Vira.

Na infância algo nos leva embora, e uma mancha antes rosa se funde a uma mancha aqui verde e figuras se enunciam de uma memória própria, não sabemos se do estudo do gesto que percorre a prática do artista argentino ou se de algo que a lona 10 demanda; A pintura de Mariano Barone fala sobre empilhamentos, e aqui narramos como eles se acumulam.

Vira. E algo pede licença pra guiar nossos pés, um passo por vez, numa dança que nunca nos ensinaram. Dobra. Uma mão se entorna na construção dos espaços de sentido. Para. O olho percorre o lugar antes parede vazia, agora modulação de gesto. Vira. Olhando pra frente, a relação de escala entre pintura e pintor se diluem, e cabe a nós o lugar de enuncia-lá agora. Emite um som. Vira.

Algo nestas pinturas some e esquece de se revelar, não sabemos se pelo tempo ou por um simples gesto eleito pelo artista, onde o jogo de velamento e descoberta já não nos é possível pela tangibilidade difusa que a relação entre forma e fundo constituem enquanto campo pictórico no seu lidar com o suporte, e cada olhar sobre a superfície da pintura apresentada aqui é isso: o atestado que, não importa o quanto acreditemos que depositemos atenção irrestrita a um objeto, jamais seremos capazes de lhe compreender por inteiro.

Vira. Mandíbulas se lançam. Dobra. Algo refaz o fim do período cretáceo. Para. Uma das ruas sem nome que compõem as muitas ruas sem nomes que compõem o tecido do passo e do asfalto nessa cidade está. Olha. Um misto de maciez e especulação abraça nossos tênis. Vira. É essa a mais importante do dia?. Morde. Algo se arrasta nos trópicos, um míssil é solto por uma mão. Emite um som. Vira.

As pinturas de Mariano falam da responsabilidade sobre a veladura e a camada, da possibilidade dos tons se enunciarem em sua individualidade, do gesto poder ser alusão a algo que acreditamos conhecer, mas que se perde na tradução.

Texto de Guilherme Teixeira

 

A visitação acontece de 27 de novembro de 2021 a 15 de janeiro de 2022, de segunda a sexta-feira, das 11h às 20h e sábado das 11h às 18h (Galeria Luis Maluf – Rua Peixoto Gomide, 1887, Jardins). Gratuita e aberta a todo o público.

SOBRE O ARTISTA

Mariano Barone nasceu em Santa Fe, Argentina, em 1985

O artista foi um dos participantes do projeto de Residência Artística que aconteceu na Usina Luis Maluf. Barone é orientado pelo gesto metafórico de mastigar, deglutir e devolver ao mundo elementos visuais de seu entorno, sejam estes oriundos do espaço urbano ou de seu próprio ateliê. Ele trabalha o reaproveitamento de partes de antigos desenhos e pinturas para a produção de novas obras, em um movimento de transformação constante.