exposição coletiva

Fraternidade Vilanismo
Diego Crux, Rodrigo Zaim, Rafa Black, Ramo, Renan Teles, Jeff, Denis Moreira, Daniel Ramos, Rodrigo Carinhoso, Thiago Consp, Robson Marques

Quando eles chegam em casa eu fico feliz

08 de julho a
19 de agosto de 2023

Galeria Luis Maluf
Peixoto Gomide, 1887

 

“Quando eles chegam em casa eu fico feliz”

Fraternidade Vilanismo

“Em casa irmãos. Tchulala”
(mensagem enviada às 03:00 am)

Frente a necropolítica projetada pelo Estado e o complexo psicoexistencial apontado nos estudos clínicos de Fanon, expostos ao risco de suas existências, Vilões se protegem amando. É ao conduzir suas múltiplas sensibilidades ao repúdio de um ideal supremacista branco, que homens negros firmam agências significativas capazes de desarticular o patriarcado.

Tecendo artesanalmente uma prática de cuidado pelas suas vidas, aqui o ato de avisar uns aos outros quando chegam em casa, a Fraternidade Vilanismo inscreve no campo da arte contemporânea o drible: um modo de encontrar saídas, alternativas para a interdição de espaço, como descreve Renato Noguera.

Na vilania destes homens está a oposição às imagens fixadas como norma. Quando um Vilão avisa “Em casa e estou bem”, sabemos que sua vida foi protegida por algo que protege a rua e a noite. Sabemos que o falso reconhecimento facial não o tirou o direito de crescer com seus filhos e família. Sabemos que não houveram tentativas de chicotearem seu corpo. Sabemos que estão vivos. E esses são motivos para estarmos todes ou, quase todes, felizes.

Pensando no contra movimento aos desejos de limitações de suas vidas, reunimos na mostra “Quando eles chegam em casa eu fico feliz” trabalhos individuais, alguns inéditos, dos onze artistas que compõe o coletivo, que traduzem em fotografias, esculturas, pinturas, colagens, palavras e costuragens a dimensão de uma simples demonstração de amor.

Produzidas por sujeitos de diferentes idades, territórios e sexualidades, em diferentes momentos, por motivações ímpares, imaginações singulares e linguagens divergentes, as obras de Consp, Carinhoso, Daniel Ramos, Denis Moreira, Diego Crux, Jeff, Rafa Black, Ramo, Renan Teles e Robson Marques convergem para refletir sobre as masculinidades negras. Mas não somente.

Protrair esta categoria que é intrínseca ao conjunto exposto abre um caminho para irmos além da afetividade que é incomum ao nosso imaginário sobre homens negros e favelados. Voltamos para a complexidade de cada obra e na reunião de todas elas no edifício em que estão para visualizarmos coreografias que buscam transpor a escassez em abundância.

No mundo em que o medo de nossas caras, trajes e comportamentos se dão mais contundente que a admiração, o respeito e o carinho, brincar com a raiva e construir ironias parece uma saída ao que querem para nós: o fim.

Texto: Aline Bispo e Rodrigo Carinhoso