4168 AM AnaAliaga High 1

Exposição Individual

04 de outubro de 2025 a
05 de novembro de 2025

Luis Maluf Galeria
Rua Brigadeiro Galvão, 996
Barra Funda, São Paulo, SP

Toda Pedra Faz Sombra
Aline Moreno

Toda pedra é montanha e toda montanha é, essencialmente, pedra. O que caracteriza a pedra/montanha é receber seus contornos de fora para dentro – erosões, fraturas, sedimentos – e resistir a eles quanto pode. Por dentro, ela é informe. Mais que formas, as pedras e as montanhas são volumes, presenças passivas.

As obras de Aline Moreno opõem à casualidade da forma da pedra a regularidade da construção, do trabalho: pedra contra madeira, geologia contra marcenaria. Os dois polos não buscam composição, correm paralelos. Nas peças que emprestam o nome a essa exposição, as pedras apoiam sobre caixas de madeiras onde tiras de papel superpostas reproduzem suas curvas de nível. Em outros trabalhos, listras a distância regular interrompem a imagem, ou esta é reduzida a quadrados intercambiáveis, sem ser, por isso, desfeita. A montanha resiste a essas operações como resistiu à erosão. A imagem se ajusta e se recompõe. Volta a se compactar. Certamente, há trocas: na série “Deslocamentos”, a pedra sedimentária, com suas listras superpostas, remete (até no nome: jaspe madeira) à consistência da madeira em que se insere, e a obriga a assumir algo de sua irregularidade. Quando Aline utiliza pintura a óleo, sempre em uma gama restrita de tons (do preto ao creme), os perfis das montanhas tendem a se confundir com os veios do compensado, como se estes os ecoassem e, ao mesmo tempo, os diluíssem.

Algumas dessas montanhas nem sequer existem: são imagens produzidas por aplicativos de computador, que Aline elabora de várias maneiras: por exemplo, nas peças de chão, reduzindo-as a altimetrias, fragmentos recortados de maneira a sugerir uma continuação (nem pico nem fundo do vale) ou círculos em que a variação de nível entra em loop. Todas as variações são possíveis: a complexidade construtiva da imagem virtual coincide, afinal, com o acaso da forma natural.

Porém, se pedras e montanhas encarnam a não-forma, elas são também o paradigma da visão de longe, do panorama. Como passividade e como distância, elas são o absolutamente outro. A marcenaria, a pintura, a elaboração no computador não penetram essa alteridade compacta, apenas a defrontam. Podemos dizer que a medem, mas não a abrangem. O que Aline faz, com procedimentos sempre renovados, é encenar esse enfrentamento. A pedra permanece pedra.

Lorenzo Mammi
Curador