Gerúndio

Gian Luca Ewbank

Gerúndio

18 de Nov – 17 de Dez 2022
Galeria Luis Maluf
Rua Peixoto Gomide, 1887 – Jardins
Seg – Sex: 10h-19h
Sáb: 11h-17h

O caráter múltiplo dos materiais e o encontro entre palavra e imagem são dois nortes da poética de Gian Luca Ewbank, artista paulistano radicado no Rio de Janeiro que ganha a quarta individual na Luis Maluf Galeria de Arte. Gerúndio. Dá sequência à bem-sucedida Impermanência, ocorrida no mesmo espaço no ano passado, e aprofunda investigações e abordagens que acoplam conceitos e visualidades outros. É uma salutar evolução, já que nesses tempos frenéticos e de circulação maximizada de quase tudo que imaginemos, há substrato mais que suficiente para uma produção também em constante movimento do artista.

Inicialmente, pode-se notar esse afeto e persistência no labor e num fascínio com materialidades distintas. O conjunto principal de peças de Gerúndio explora a bidimensionalidade, é formado em especial pela resina e seu efeito de brilho e, em dados mais de ideias fundamentadoras, a utilização da colagem como linguagem predominante. Não uma colagem de papel e cola, mas algo mais desestabilizador, frente ao bombardeio de signos que enfrentamos cotidianamente, um pensamento de bric-à-brac telemático, para dizer o mínimo.

Afora as peças em tela, tal pensamento de justaposição e mixagem de elementos diversos se expande para o espaço nos trabalhos tridimensionais de Ewbank. E é relevante perceber que o artista opta pelo néon. A partir desse uso, muito empregado por artistas que formulam obras em especial correlação com a escrita, é perceptível entender que ele se encanta por tal materialidade pelo misto entre mensagem e apelo, transparência e presença, além do âmbito sedutor e decodificável que o néon se localiza e trafega com desenvoltura.

“Antes que o dadaísmo e o surrealismo começaram a perseguir, nas palavras de Rimbaud, ‘a perturbação sistemática dos sentidos’ por meios pictóricos e outros meios, já se havia explorado muitas vezes – em revistas ilustradas e, sobretudo, nos populares cartões postais – o fascinante paradoxo de conseguir distender a realidade pelo meio que a priori era seu mais fiel espelho, a imagem fotográfica”1, argumenta a importante crítica Dawn Ades, especialista nas duas ruidosas correntes de vanguarda do século 20. Assim, essa busca do maravilhoso na banalidade por meio de expedientes específicos tem entre os adeptos artistas do quilate de Ewbank, que, atualmente, até devem filtrar e serem mais rigorosos no sentido de síntese e não tanto de expansão – em tempos de metaverso, comportamentos solipsistas, realidades paralelas que transbordam o virtual e se chocam com a concretude do real etc.

A utilização da palavra remonta aos precursores do dadá e do surrealismo. Diferentemente de outras trupes vanguardistas, tiveram como expoentes escritores e poetas. Assim, as criações literárias de nomes como Aragon (1897-1982), Breton (1896-1966), Éluard (1895-1952) e Tzara (1896-1963), por exemplo, serviam como instrumento subversivo de conhecimento na forja de uma obra total, improvisada, aberta ao acidente e desorientadora. “(…) Breton lembra-se das reflexões do pensador do século 19 Éliphas Lévi: ‘Quando um desejo modifica o mundo, essa é uma Palavra que fala’.”2, destaca o historiador da arte Arturo Schwarz.

Portanto, os gerúndios do discurso de Gian Luca Ewbank tem mais conexões com a persistência do labor diário de ateliê e um fascínio ininterrupto com a alquimia do fazer, entre a criação matérica e cheia de concretude, ladeada a conceitos robustos a se fixarem em meio a tempos tão líquidos, voláteis. Como o brilhante pensador Byung-chul Han reflete: “Seja feliz é a nova fórmula de dominação. A positividade da felicidade reprime a negatividade da dor. Como capital positivo, a felicidade deve garantir uma capacidade ininterrupta para o desempenho”3. Ewbank subverte tal lógica e, por meio de sua autoralidade chamativa, nos chama para uma posição crítica, que deglute o consumismo e os mass media acionados nas artes dos 1960´s, por exemplo, e ajuda a questionar e ressignificar esse complexo mundo do hoje.

Mario Gioia, novembro de 2022

1. ADES, Dawn. Fotomontaje. Barcelona, Gustavo Gili, 2002, p. 107.
2. SCHWARZ, Arturo (org.). Sonhando de olhos abertos – Dadá e surrealismo. São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, 2004, p. 82.
3. HAN, Byung-chul. Sociedade paliativa – A dor hoje. São Paulo, Vozes, 2021, p. 26-27

SOBRE O ARTISTA

Gian Luca é artista visual e estudou também comunicação social. Gian, o “Baldacconi”, trabalha com uma ampla gama de materiais que vão desde a tinta spray até concreto e tijolo. Em seu processo criativo, o artista dirige sua pesquisa in loco e dentro do estúdio, projetando e permitindo que a intuição intervenha ao longo do desenvolvimento da obra.

Fortemente influenciado pela pela Pop Art, o artista tensiona questões provocativas e metafóricas relacionadas à cultura de massa, à iconografias pop e ao ambiente urbano. Em algumas de suas obras, o artista explora a desafiadora contemporaneidade após os meses de trauma coletivo consequentes à pandemia. A ideia é provocar o sonho, inspirar, coletiva e individualmente, nossas quimeras pessoais.

Gian teve seus trabalhos expostos em feiras pelo Brasil, além de diversas exposições individuais pelo país. Suas obras também já foram expostas na Itália, Emirados Árabes e Estados Unidos.