ALINE BISPO
A MEDICINA RÚSTICA, PINTURAS DE ALINE BISPO
17 de Jul 2021
Rua Peixoto Gomide, 1887
Jardim Paulista – SP
A conjuntura que dá ensejo à primeira exposição de Aline Bispo está revestida de importância que transcende e ao mesmo tempo confirma as qualidades dessa mostra. De fato a artista também é uma protagonista desse momento extraordinário na história recente da arte contemporânea brasileira, já que nunca como agora a sensibilidade afrodiaspórica recebeu a atenção que mais do que merecidamente tem despertado. Parte dessa atenção está voltada à robusta produção artística realizada por mulheres, mulheres cujo trabalho foi quase sempre subestimado e sub-representado em galerias, museus e seus congêneres. A atenção que essas realizações despertam deve-se entre outros fatores a luta empreendida pelas mulheres negras contra o racismo, pela conquista de espaço e igualdade de oportunidades e, não menos importante, pela qualidade e potência expressa em obras que não podem ser contornadas pelas narrativas pautadas na heteronormatividade branca e, portanto, excludente que se quer hegemônica e que por isso mesmo flerta com a obsolescência quando não reconhece o valor e a riqueza expressa na diversidade que caracteriza nossa sociedade. Valores da diversidade, aliás, apoiados pela galeria Luis Maluf.
A artista que já tem um trabalho reconhecido e consolidado enquanto ilustradora apresenta nessa mostra pinturas em pequenos e médios formatos realizadas em tinta a óleo, acrílica e guache que apresenta uma série de retratos de personagens negros, geralmente sozinhos e em diferentes atitudes. Em comum essas personagens tem a cor da pele elaborada em tons terrosos escuros, há certa indistinção no que se refere aos seus rostos que são apenas sugeridos e adivinhados através da massa de tinta. Esta opção da artista encontra paralelo em outros expoentes da arte afro brasileira contemporânea e sugere um caminho que flerta com a ideia da busca por um “arcaico mítico”, uma identidade comum aos negros e negras que, apesar disso, não anula a individualidade das personagens já que identificamos delas a sua classe, origem social, gênero e claro, raça.
Nesses trabalhos de Aline Bispo a velocidade da execução está patente no padrão das suas enfáticas pinceladas deixadas à mostra na superfície da lona ou do papel evidenciando os processos que a artista adota na realização dos seus trabalhos. O expressionismo que é resultado desse procedimento realça a sensualidade da sua paleta e na sua concepção de sua pintura traduzida em superfícies de cores sólidas e brilhantes de onde emergem figuras de construção tensa e de lirismo ríspidas realçadas pelo monocromatismo do plano contra o qual elas estão confrontadas.
O racismo nega a civilização da diáspora afro-atlantica a qualidade das suas conquistas e a competência dos seus realizadores, a medicina que chamamos rústica (ou popular) em geral baseada em ervas, é o tradicional lenitivo das populações excluídas, a ela recorrem todos os que não têm acesso a outro tipo de socorro. São tecnologias e saberes prospectados em outras tradições, também essa arte representada nos trabalhos da mostra “A medicina rústica, pinturas de Aline Bispo” convida-nos a participar de uma experiência afro-diaspórica contemporânea e ancestral investigada e vertida em imagens através do filtro poético da artista Aline Bispo.
Claudinei Roberto da Silva – Curador
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SOBRE O ARTISTA
Formada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Aline Bispo, representada pela Galeria Luis Maluf, investiga em sua produção temáticas que cruzam a miscigenação brasileira, gênero, sincretismos religiosos e etnia. Iniciou sua carreira artística grafitando ruas em São Paulo e desde então, a interdisciplinaridade da artista transita em pinturas, ilustrações, gravuras, fotografia e performance.
Atualmente, Aline Bispo participa do Projeto de Residência Artística na Usina Luis Maluf, espaço cultural localizado na Barra Funda, idealizado por Luis Maluf e coordenado por Carollina Lauriano. Em 2019, Bispo fez parte da primeira edição do programa de incentivos a jovens artistas e curadores do Instituto Adelina Cultural e em 2020 foi convidada para fazer parte do time de artistas do Projeto Convida, do IMS Paulista. Além disso, ilustra a coluna de Djamila Ribeiro, na Folha de São Paulo e é reconhecida por projetos como a ilustração da capa do Best-seller, Torto-Arado, de Itamar Vieira Junior. Aline também é criadora do projeto Museu nas Férias e é curadora no Programa pela equidade racial do Instituto Ibirapitanga.