Bordalo II

Bicho Homem

28 de março de 2023
a 06 de maio de 2023

Usina Luis Maluf
Brigadeiro Galvão, 996
Barra Funda, São Paulo

Bicho Homem 

No meu trabalho retrato normalmente animais e tento escolher aqueles com os quais não estamos tão habituados a conviver e que, por esse motivo, nos fascinam e impressionam.

Quando pensamos nestes animais, somos imediatamente remetidos para um universo mais puro e natural – aquele que no nosso imaginário nos aparece espontaneamente como o lugar natural dos animais.

Se aplicarmos esta mesma perspetiva à raça humana, qual será o ambiente que lhe é mais natural, onde o Homem existe de forma mais pura? Aquele onde o Homem permaneceu mais próximo da Natureza e vive em maior harmonia com ela – como acontece ainda com alguns povos indígenas – ou aquele que, contrariando a natureza, a sua e a do planeta, habita uma

realidade artificial que construiu para si e da qual se tornou escravo?

Quando olhamos para as cidades modernas a realidade é bem mais complexa. Longe da natureza a dualidade resume-se muitas vezes aos que têm e aos que não têm: aos que têm trabalho, têm casa, têm acesso à educação, têm acesso à saúde, têm dinheiro, têm estabilidade e têm a possibilidade de pensar num futuro e realizá-lo, e aos que nada têm e cuja existência é esculpida pela ausência de possibilidades, os que não têm o direito de escolher o que querem ser e como querem viver. A estes últimos resta-lhes sobreviver.

Esta luta diária faz da cidade não um local de desenvolvimento, progresso e bem estar, mas um lugar hostil, de opressão e violência.

Longe da natureza, os mais frágeis são renegados pela própria espécie e remetidos para uma sub-existência onde são equiparados às pragas das cidades – são os BICHOS.