Corolário

Edu Silva

Corolário

23 de agosto – 17 de setembro
Luis Maluf Galeria de Arte
Rua Peixoto Gomide, 1887 – Jardim Paulista

O artista paulistano Edu Silva produz com persistência no campo pictórico – ou seja, pinturas que podem ser tanto os quadros bidimensionais que representam faz muito a linguagem, mas também experiências algo arriscadas da linguagem pelo espaço, como os inéditos objetos-cubo que apresenta em Corolário, a primeira individual na Luis Maluf Galeria. Grosso modo, o título da mostra se refere a um pensamento ou consequência derivado de uma premissa, de uma ideia anterior.

Longe de uma concepção apenas formal, realçar a pesquisa ininterrupta, dentro de uma disciplina diária, de um fazer costumeiro, joga luzes sobre o corpus de obra do artista. Os campos de cor em embates constantes, por sobre as superfícies ora lisas, ora permeáveis, se mesclam em processos por vezes mais lentos e, já sobre o chassi, podem manifestar cores mais fortes que traçam sua robustez via delimitações de ordem gráfica. Tanto em escalas generosas como em tamanhos ‘de câmara’, as linhas configuram territórios, arquipélagos, continentes e topologias de cores, planos e volumes que se desdobram à maneira de cartografias poéticas a serviço de uma visualidade movediça e não conformada.

Algumas séries, no entanto, exasperam o que poderia ser um tom apenas harmônico. Por meio de procedimentos e construções formais, a poética de Silva vai conjugando elementos que, já por meio de outra camada de leitura, se conectam com a sua condição de artista egresso das periferias e que discute a questão racial no Brasil.

Em um país que esconde o passado escravocrata violento e de marcada desigualdade social, a criação de Resistências (2019), em que papelão numa coloração kraft bastante comum é disposto junto de um mármore polido, em peça de ar construtivo, provoca outras leituras que não apenas as da visualidade. Há também pinturas em que áreas algo bege, algo ocre, se aproximam de rasgos por conta das bordas feitas mais irregularmente. Em outros, a nobreza do linho escapa de mero receptáculo das tintas e se torna cor não apenas de fundo. Em 1979 (2019), objetos escapam da bidimensionalidade em caixas de vidro que abrigam diminutos círculos de um pardo opaco. A cada movimentação, um novo dispor. Série que, em conjunto com outras parecidas, coloca a investigação do artista a serviço de discussões atuais bastante pungentes.

A memória é outro vetor relevante em Corolário. Os objetos-cubo, intitulados Entre (2022), que se filiam ao tridimensional e também a um pictórico mais expandido podem se ligar à infância do artista, perto do pai marmorista, em momentos lúdicos – e não só, estabelecendo elos com a tensão de crises identitárias. E, se nos detivermos numa visada sobre as pinturas stricto sensu, tintas, texturas e matérias que ocupam, desenham e se espalham parecem também demarcar trajetórias, estabelecer percursos, atestar processos e instantes de jornadas alongadas ou rotineiras. Antes de ser designer e artista, ele trabalhou em diversos empregos distantes de onde morava – num só exemplo, das cercanias de Embu para a Faria Lima todos os dias. Assim, deslocamento é um conceito central na produção de Edu Silva, que, por isso, aproxima o seu fazer de práticas contemporâneas de pares.

Olhares acurados e não óbvios a partir da particular matéria poética de Edu Silva, que, lidando com habilidade entre a contenção e a expansão, a delimitação e a insurgência, o demarcar e o espalhar, o anonimato e a autoralidade, consegue, de modo brilhante, suplantar as paisagens intermediárias que golpeiam e vêm de encontro a nós com rapidez assustadora.

Mario Gioia
Curador

SOBRE O ARTISTA

Edu Silva, São Paulo (1979). Vive e trabalha em São Paulo.

Artista visual graduado em produção multimídia pelo Senac (2010), dedica-se
às artes visuais e a projetos gráficos em seu ateliê. Após um percurso como diretor de arte e docente em comunicação visual, complementa sua formação artística frequentando cursos livres, grupos de estudos e acompanhamentos artístico. Destacam- se nessas incursões o curso de História da arte com Rodrigo Naves, Pintura e reflexão com Paulo Pasta e o Grupo de pesquisa em artes visuais, na Casa Contemporânea com orientação de Marcelo Salles.

Edu se interessa por questões identitárias, segregação social, tensões territoriais e a rediscussão da mestiçagem, tendo a pintura como principal produção. Suas obras são constituídas por campos cromáticos divididos desigualmente, onde uma cor se estabelece como dominante enquanto outras cores ocupam menores espaços às margens da tela. No embate entre os matizes surgem os desenhos, linhas e ou formas geométricas orgânicas, sugerindo limites entre as cores.

A partir de uma vivência do “estar entre”, Silva, metaforicamente, pensa essas demarcações cromáticas como fronteiras e a carga simbólica que elas podem representar.

Das exposições individuais destacam-se: [In] Fluxos Cromáticos no Centro Adamastor; Autorretrato na Galeria Vértice; Mestiçagem na Casagaleria; Rupturas no MAB e na Casa da Xiclet. Das Coletivas: XXI e XX Bienal Internacional de Cerveira; 25o Salão de Artes Plástica da Praia Grande, 49o e 51o SAC de Piracicaba; Pintura Expandida na Galeria Virgílio e PIN•CÉU na Funarte. Premiado em 2a lugar na 10a edição do Salão dos Artistas sem Galeria e em 1o lugar no XXXVII Salão de Artes de Rio Claro.