Ser uma ponte e não um fim

CLARA BENFATTI e JACQUELINE FAUS

SER UMA PONTE E NÃO UM FIM

23 de Set – 16 de Out 2021
Rua Peixoto Gomide, 1887
Jardim Paulista – SP

No campo das artes visuais, a paisagem começou a se evidenciar em obras do século XIV, quando os artistas abandonaram progressivamente o espaço plano e quase vazio da construção celestial idealizada, para inserir em suas telas os aspectos de um mundo natural que estavam a descobrir. A paisagem só alcançou o estatuto de tema no século XIX, com o paisagismo inglês e o romantismo alemão, quando, aí sim, passou a ser o personagem principal.

E como produto cultural, a paisagem está sempre impregnada de determinantes culturais e sociais, que expressam experiências de convívio com o entorno. Ela expõe uma forma de relação com a natureza, uma maneira de olhar o mundo e de recriá-lo. Tendo em vista o deslocamento como um elemento essencial para que essas relações entre ser humano e adjacências se estabeleçam, como seria pensar o mundo ao redor frente à impossibilidade de locomoção?

Em seu conjunto de trabalhos, Clara Benfatti apresenta uma série de ilhas imaginárias que evidenciam um processo deliberado da artista na criação de um cotidiano alternativo. Com um trabalho que utiliza-se da deriva pelas cidades como matéria de pesquisa artística, o impedimento de tais deslocamentos levaram Clara a ficcionalizar uma paisagem oposta à ideia de confinamento.

Em outro aspecto, Jacqueline Faus cria esculturas em cerâmica cuja noção de paisagem se manifesta pela gestualidade da artista, ora por meio do desenho, ora por meio de formas, que destacam aspectos da natureza. Seja em grande ou pequena escala, a artista consegue transpor em seus objetos uma noção de desenho de paisagem que remete à liberdade pictórica da nossa primeira infância, numa espécie de resgate de uma imagem muito mais livre e desprendida.

Diante da pergunta posta anteriormente, os trabalhos de Clara Benfatti e Jacqueline Faus trazem uma reflexão sobre como construir paisagens diante de um mundo em suspensão, recorrendo não somente ao resgate de registros internos de paisagens anteriormente registradas pelas artistas, mas também a ficções de um mundo porvir, enfrentando assim a tradição do gênero da paisagem, abrindo sutilmente uma rede de considerações sobre suas infinitas possibilidades interpretativas.

Carollina Lauriano – Curadora

 

A exposição está aberta para visitação de 23.09 a 16.10, de segunda a sexta das 11h às 20h e aos sábados das 11h às 18h, na Rua Peixoto Gomide, 1887 (Jardins)

SOBRE AS ARTISTAS

Clara Benfatti concentra em sua pesquisa diferentes aspectos das relações que se formam entre as cidades e seus habitantes. Interessam-lhe as possibilidades de criar novas experiências no espaço urbano. Recentemente começou a trabalhar com cartografias abstratas, investigando uma relação subjetiva entre o indivíduo e o momento atual dentro da cidade.

 

Jacqueline Faus tem como principal suporte de pesquisa a cerâmica, com interesse na imprevisibilidade de sua matéria prima. Por ser uma matéria de alta plasticidade, a argila oferece caminhos alternativos ao que foi imaginado, e é no acaso dessa negociação entre artista e matéria que Jacqueline se interessa. Em sua produção a artista reflete sobre a relação contínua entre pulsão de vida e morte, realidade e ficção, ansiedade e contemplação.